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Perfil epidemiológico de Hanseníase no estado do Tocantins

Perfil epidemiológico de Hanseníase no estado do Tocantins

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RESUMO
Objetivo: Avaliar o perfil epidemiológico de hanseníase no estado do Tocantins. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico de caráter quantitativo e qualitativo provenientes de dados notificados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) entre os anos de 2015 e 2019. Foram analisados os números de casos novos, prevalentes, formas clínicas, sexo e faixa etária de idade durante o período.

Resultados: No período de 2015 a 2019 foram registrados 8.593 casos de hanseníase no Tocantins.A partir desse estudo, observou-se maior prevalência no sexo masculino com 4.717 casos, sendo 3.876 casos do sexo feminino com alto índice da forma clínica dimorfa entre a faixa etária de 30-49 anos. O período de maior notificação de casos se deu no ano de 2018 e 2019.

Conclusão: O estado do Tocantins apresentou destaque na região norte em relação ao número de casos de hanseníase no período de 2015 a 2019. Segundo os dados do DATASUS, notou-se um aumento da incidência e prevalência de casos notificados no período, baseado no perfil clínico epidemiológico da hanseníase no estado.

Descritores: Hanseníase, Perfil Epidemiológico, Incidência e Prevalência,
Saúde Pública.

INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa de evolução crônica que atinge diversos países do mundo, cujo principal agente etiológico é o Mycobacterium leprae. Esse agente acomete essencialmente as células de pele, nervos periféricos e pode causar grande morbimortalidade aos doentes, caracterizando um grande problema de Saúde Pública e desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS).

No Brasil, os casos de hanseníase sofrem distribuição bastante heterogênea nos diversos estados, apresentando incidência e prevalência maiores na região norte, nordeste e centro-oeste. De acordo os parâmetros do Ministério da Saúde, a hanseníase no Tocantins é considerada uma hiperendemia, sendo que, no ano de 2012 ocupou o segundo lugar no ranking brasileiro em relação ao número de casos. Essa realidade aponta para uma magnitude e força de transmissão bastante preocupante no estado.

O diagnóstico da hanseníase consiste principalmente na avaliação clínica de lesões de pele, procurando sinais dermatoneurológicos da doença. Embora o diagnóstico parecer simples e o tratamento ser gratuito pelo SUS, a doença ainda causa grande preocupação a saúde pública devido ao alto poder incapacitante dessa moléstia. O enfrentamento da doença atualmente é uma prioridade para o Ministério da Saúde, sendo as principais estratégias a detecção precoce dos casos e o exame de prevenção de contato, que visam prevenir principalmente as sequelas, incapacidade físicas e favorecer a quebra da transmissão da doença.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), além de ser um problema de saúde pública, a hanseníase também faz parte das doenças tropicais negligenciadas, com prevalência em diversos países do mundo, afetando bilhões de pessoas. O Brasil possui destaque no ranking de casos nos últimos anos, sendo a região norte com mais notificações. A hanseníase acomete principalmente populações em zona de pobreza, sem saneamento básico e que estejam em contato próximo e prolongado com vetores infecciosos.

A hanseníase é uma doença que também faz parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças (Portaria de Consolidação MS/GM no 4, 28 de setembro do ano de 2017), sendo portanto, a obrigatoriedade de reportarem os casos de agravo no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN) pelos profissionais da saúde.

Dada a grande complexibilidade epidemiológica da hanseníase no estado do Tocantins, escassez de estudos do seu comportamento e distribuição, além da necessidade de melhorias diagnósticas e medidas de controle em áreas
hiperendêmicas, justifica-se a necessidade de realização desse estudo epidemiológico.

O presente estudo objetivou avaliar o perfil epidemiológico de hanseníase no estado do Tocantins por meio de dados disponíveis na plataforma eletrônica do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde.

MÉTODOS
Trata-se de um estudo epidemiológico, de caráter quantitativo e qualitativo cujo cenário foi o estado do Tocantins, por meio de dados coletados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) disponibilizados no
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

O SINAN é uma plataforma digital do Ministério da Saúde, fonte nacional de informações muito importante de notificação, na qual vem se aperfeiçoando a cada ano e consolidando como grande ferramenta de pesquisas em saúde. As fichas de notificações compulsórias consistem em um formulário padronizado com informações sociodemográficas e clínicas do doente, preenchida por profissionais de saúde.

Fica evidente a importância da pesquisa não somente por tratar-se do elevado números da casos da doença na região, mas sim por tratar-se da necessidade em criar estratégias de diagnóstico precoce e controle da incidência.

Para a análise dos dados, delimitou-se a amostra ao período de 2015 a 2019. Foram analisados os indicadores epidemiológicos como dados de incidência, prevalência, faixa etária de idade, gênero e formas clínicas da
doença. A análise dos dados também se deu a partir da descrição simples e comparativas entre as regiões de saúde do estado compreendendo o período delimitado do estudo.

RESULTADOS

No período de 2015 a 2019, foi registrado um total de 8.580 casos novos de hanseníase na população do estado do Tocantins. Entre esse período, o maior número de casos se deu no ano de 2018 (n = 2.128 casos; 24,80%), seguido pelo ano de 2019 (n = 2.018 casos; 23,51%), 2016 (n = 1.710 casos; 19,93%), 2017 (n = 1.672 casos; 19,48 %), 2015 (n = 1.052 casos; 12,26%).

Dessa forma, observa-se uma tendência de crescimento do numero de casos da doença no estado (Figura 01). O Tocantins se manteve no parâmetro de alta endemicidade, principalmente

Perfil epidemiológico de Hanseníase no estado do Tocantins

Figura 01. Distribuição do número de casos notificados de Hanseníase no estado do Tocantins,
Brasil, 2015 - 2019.

Em relação as regiões de saúde, Palmas apresentou a maior ocorrência de casos (3.515; 40,96%), seguidamente Araguaína (854; 9,95%), Porto Nacional (453; 5,27%), Gurupi (386; 4,49%), Paraíso do Tocantins (221; 2,57%).

Para determinar a taxa de detecção é analisado o número de casos novos diagnosticados e notificados de hanseníase por 100 mil habitantes na população em determinada região geográfica e período de estudo. Este parâmetro permite
então determinar os fatores de magnitude, morbimortalidade e tendências da doença ao longo do tempo, além de estimar o risco de aparecimento de casos novos e suas formas clinicas.No estado do Tocantins a hanseníase é uma doença considerada hiperendêmica com taxas de detecção acima de 40 por mil habitantes, com destaque na região norte e nacionalmente.

Através da análise qualitativa, constatou maior prevalência de hanseníase em homens em todas as faixas etárias de idade (n = 4.706 casos; 54,84%) durante todo o período, sendo (n = 3.874 casos; 45,15%) registrados em
mulheres (Tabela 01). Nesse período ainda, observou-se maiores números de casos na faixa etária de idade entre 35 e 49 anos, incluindo ambos os sexos (n = 3.338 casos; 38,90%).

Perfil epidemiológico de Hanseníase no estado do Tocantins

Tabela 01. Frequência do número de casos de hanseníase, por sexo e ano de notificação no
estado do Tocantins, 2015 - 2019.

Dentre os 8.580 casos novos de hanseníase registrados no Tocantins entre os anos de 2015 a 2019, o total de 569 (6,63%) ocorreu em menores de 15 anos de idade e residentes em área urbana. O sexo masculino nessa faixa
etária de idade teve maior predominância (51,40%) e sexo feminino (48,59%).

Entre os anos de 2015 e 2019 foram diagnosticados 5.683 casos da hanseníase classificados na forma dimorfa da doença, representando cerca de 66,23% do total. Em seguida a forma clínica virchowiana com 906 casos, indeterminada (874) e Ign/Branco ou não classificada (581).

Em relação a variável escolaridade, constatou um predomínio do numero de casos de hanseníase em pacientes com ensino fundamental incompleto 43,10%, seguidos por indivíduos com ensino médio completo e superior incompleto (19,0%), analfabeto (601; 7,0%) e ensino superior completo (433; 5,04%). É importante mencionar que a proporção de casos novos que não possuem esse dado de escolaridade registrado no sistema de informação (Ign/Branco) é expressiva, com (1.532; 17,85%). As regiões de maiores densidades populacionais apresentaram valores mais elevados de detecção de casos novos de hanseníase.

DISCUSSÃO
Foi possível observar por meio deste estudo de âmbito estadual que, os coeficientes de detecção geral da doença de hanseníase tiveram tendência decrescente por toda região do estado do Tocantins, porém com padrões de
resultados diferentes entres as regiões de saúde.

A partir de dados obtidos no SINAN, verificou-se predomínio do sexo masculino em relação ao sexo feminino, porém é notável que ambos os sexos apresentam níveis crescentes ao decorrer dos anos, com aumento significativo
no ano de 2018. A faixa etária predominante em ambos os sexos se deu entre 30 a 49 anos de idade.

Vale ressaltar que, houve persistência da transmissão ativa e diagnóstico tardio da doença de hanseníase. Esses fatores apontam para a continuidade dos padrões da hiperendemicidade que o estado já possui ao longo dos anos.
Nesse estudo, verificou-se que, os coeficientes de detecção em menores de 15 anos de idade denunciam o diagnóstico tardio em crianças.Os dados clínicos corroboram essa situação através dos resultados obtidos, como altas números de formas multibacilares, episódios reacionais e incapacidades físicas dessa população.

Dados de deformidade físicas, ainda que não alarmantes em menores de 15 anos de idade apontam para uma gravidade extrema da doença. Vale ressaltar que, durante a infância é consideravelmente mais difícil e sistemático o
diagnóstico da doença.

Nos diversos contextos epidemiológicos e cenários da doença de hanseníase, houveram diversas implementações no tratamento polioquimoterápico da doença ao longo dos anos. Ainda hoje, permanecem discussões sobre inovações estratégicas na tentativa de melhorar a efetividade de eliminação e controle da doença. Consequentemente, reduzir os índices de detecção de hanseníase impactam diretamente na melhoria de saúde pública em relação a doença.

Por fim, os dados epidemiológicos de hanseníase no estado do Tocantins evidenciam um grande problema de Saúde Pública, não só em âmbito estadual, mas sim nacional. É possível perceber fragilidades operacionais de vigilância dentro da atenção primária à saúde, bem como oferta de treinamento efetivo para o diagnóstico e detecção precoce da doença em tempo oportuno de intervenção.

CONCLUSÃO
A doença de hanseníase é um importante problema de Saúde Pública no estado do Tocantins, apresentando alto grau de persistência e foco de transmissão ativa da doença. Os dados obtidos e analisados demonstraram persistência significativa das notificações de casos novos de hanseníase no estado. A variedade de casos da forma multibacilar ao longo desse período indicam permanência do diagnóstico tardio.

Mesmo que o estado disponha de serviços de referência e assistência a doença, é necessário uma cobertura completa de assistência, controle, atenção, abordagem da transmissão e, por fim, o combate aos elevados números de
casos no estado.

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